domingo, 21 de julho de 2013

D.Pedro

O esvair que se queda nele,
Queda-se pela donzela amante
Sentindo o seu pesar na pele,
Que corrói o sangue derramante.

A morte é a fatal testemunha
Daquele funesto afrontamento
Em que o amor nada mais punha
E só restava o sentimento.

Via o mísera deambulante
A débil condição virginal
De sua sempiterna amante,
Que quis com ela ser imortal.

Pegando em divino punhal
Cravejou seu fustigado peito
Com a rude força infernal,
Levando a cobiçada no leito.

Mundo Faz de Conta

Faz de conta que estás contente,
Faz de conta que ninguém te oprime,
Faz de conta que gostas desta gente,
Faz de conta para quem te reprime .

Não faças de conta que a vida entortou,
Não faças de conta que amargas,
Não faças de conta que vives com amarras,
Não faças de conta que ninguém te abre a porta.

Faz de conta que sabes onde andas,
Faz de conta que a bandeira brilha,
Faz de conta que não entras na guerrilha,
Faz de conta que comandas.

Neste mundo faz de conta,
Tudo é feliz,
Niguém te amedronta,
Agora faz de conta que vives num país.

Pranto

As lágrimas que cobrem teu rosto
São o espelho do teu coração,
Tímido com a desgraça
E que bate por quem não deve.

Mas essas lágrimas,
Do céu desavindas a brotar
Não são um choro banal,
São o pranto que corre por tua beleza eterna.

Adrenalina

O horizonte basta para ti
Que te pões na linha do risco
Para libertar essa sensação
De adrenalina.

A adrenalina de correr
Para iludir o tempo
E para te evadires de ti
Se mais lamento.

Há mil caminhos para percorrer
Infinitos sorrisos para sorrir
Multidões de obstáculos para venceres,
Uma imensidão de trilhos para aventurar,
Um universo sem fim para te perderes.

Sem nunca desistires
Embriagas-te com coragem
Injectas-te de aventura
E, sem temores,
Rossas os limites da proeza.
Pois, para ti,
O horizonte basta.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Vida

A vida, meus caros, não tem senão vidas.
Aquelas que vivemos, na vida.
Um ir e vir de emoções,
Num desaguar de verdades absolutas.

A vida é a vidinha.
Aquela que vivemos sem dar por isso.
Um brotar de pessoas com quem não falamos,
Num evitar de coisas que não queremos.

Vivemo-la com o rebuliço do pensamento,
Sem pensar muito na sorte.
É gostar sem saber e sem saber que gostamos.
É dessa índole que somos feitos.

Da vida, somos o que fazemos.
E do que queremos fazer, que ninguém nos impeça.
Somos mais que ninguém e ninguém é menos que nós.
Agora, vivamos, porque a vida não quer saber de nós,
Também ela avança e caminha. Na calma do tempo.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Para O Knut

Vivo na miséria.
Na miséria física, não mental.
Mas quero esta miséria.
Não almejo mais nada senão a miséria.

Só quero pensar.
Pensar e escrever. Compulsivamente.
A minha sobrevivência é o meu pensamento.
Mas vou enfraquecendo, dizem.

Invento. Desde nomes a imagens.
Invento palavras até, mas com sentido.
Sentido para esta lástima em que me encontro.
Vou alucinando contos e escritos. Perdi o meu nome.

Já não tenho crenças. Nunca tive, de resto.
Esta vida que nos querem dar, não vale nada. Nada.
Não sou Dostoievski. Serei Kafka, um dia.
A minha condição não gosta de nada que me oferecem.

Quero escrever! Deixem-me escrever!
Não quero comer! Não quero mais nada material.
Sou espiritual. Não me tentem salvar, só preciso do lápis.
Já não me encontro mais. Deixo-vos esta arte.
A arte da fome.

sábado, 16 de junho de 2012

Um Não-Amor

Monotonia, acalmia.
Tudo à minha volta se revia, na nostalgia.
Sem amor, com ilusão, 
Sem coração, com decepção.

De repente, um sopro.
Um sopro sem cor, creio, mas com muita alma.
Essa alma vinha leve, calma, como a brisa.
Essa alma naquele sopro eras tu.

E a monotonia foi alegria.
E a nostalgia não mais foi ditadora do meu pensamento.
Com ilusão, com coração.
Com paixão, com amor.

Mas não te posso amar.
Esse sopro veio com tristeza.
A tristeza que sempre me cercou.
Um cerco de infortúnio, de um não amor.

Prefiro o tão angustiante repouso.
Sempre é menos doloroso do que te amar.
Quero a vida sem vida, que essa não tem amor, e o amor magoa.